As origens da utilização da cortiça perdem-se no tempo. Foram vários os povos que, milhares de anos antes de Cristo, descobriram o potencial desta matéria-prima proveniente do sobreiro (Quercus Suber L.) e a utilizaram numa infinidade de objetos do quotidiano. Prova disso são os inúmeros vestígios encontrados em alguns países do Mediterrâneo.
"Para um material que tem sido usado desde a Antiguidade, a versatilidade camaleónica da cortiça é astronómica (...) graças à sua capacidade de renovação e de adaptação a novas exigências tecnológicas."
The Chemistry of Cork, National Geographic
Os Antigos Egípcios usaram a cortiça como utensílio náutico, nas artes da pesca e em aplicações domésticas. Avançados para a sua época, escolheram também este material para as solas das suas sandálias, sem sequer imaginarem que a moda estaria nos desfiles das mais prestigiadas casas de alta-costura do século XXI.
A Civilização Romana continuou a explorar as virtudes da cortiça no calçado, como palmilhas, mas alargou os horizontes: aplicou-a também como vedante de ânforas para transportar líquidos e ainda nas próprias casas, para revestir telhados e tetos. Já nessa época se evidenciava a aptidão térmica da cortiça, que acabaria por ser comprovada mais tarde pelos monges medievais, que a utilizavam para revestir as paredes dos seus aposentos, para se protegerem do frio no inverno e do calor no verão.
Na Era das Grandes Navegações, esta matéria-prima natural foi aplicada nas caravelas portuguesas que partiram à descoberta de novos mundos. Num passado ainda recente, foi também usada em equipamentos militares da II Guerra Mundial.
Apesar da multiplicidade de utilizações, a cortiça tem sido relacionada de forma mais imediata com o vinho. Embora haja registos de ânforas do século III a.C. vedadas com cortiça, contendo vinho em bom estado de conservação, a grande revolução na indústria vinícola só ocorreu no século XVII, com Dom Pérignon.
Este monge francês, que ficou célebre pelo seu champanhe, decidiu procurar uma alternativa às rolhas da época - madeira envolta em cânhamo embebido em azeite -, pouco vedantes, duvidosas na preservação do vinho e sempre prontas a saltar. A cortiça foi a solução. Esta escolha impulsionou o crescimento das indústrias do vinho e da cortiça, que têm evoluído juntas ao longo de centenas de anos. Hoje, a rolha de cortiça protege os melhores vinhos, dos centenários aos mais novos.
As potencialidades da cortiça continuam a ser reconhecidas e, num mundo em que a inovação e a ecologia passaram a andar de mãos dadas, este material desperta o interesse de cada vez mais setores. Um dos produtos mais antigos em utilização permanente pela Humanidade continua, assim, a dar vida a novos produtos e aplicações.
Tecnologia de ponta aliada ao poder da natureza.